terça-feira, 20 de maio de 2014

Santa das Rosas

Nessa semana lembramos, no dia 22/05, de uma das Santas mais queridas da Igreja. Uma Santa pela qual eu possuo um carinho especial: Santa Rita de Cássia, a Santa das Rosas.

Mas antes de falar um pouquinho dela, vamos entender o que é ser Santo e o que o Magistério da Igreja nos ensina sobre santidade. 
A constituição dogmática Lumen Gentium (LG), no seu número 10, afirma que: 

"Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho."

Mais adiante, no seu número 40, a LG nos lembra que o grande autor e consumador dessa perfeição à qual nos convida é o próprio Cristo:

"Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: «sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito»"


Compreendemos então, a santidade com a configuração à Cristo, modelo de perfeição, a quem devemos, como o nosso esforço diário, imitar, de modo que possamos um dia dizer como o Apóstolo São Paulo: 


"Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim."
Gálatas 2:20


O número 40 da Lumen Gentium continua:


"Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam."


Todos nós, sem exceção, somos chamados à santidade em Cristo. Somos chamados a aperfeiçoar o dom que recebemos no nosso batismo e deixar que, pela graça de Deus, diminuamos para que Cristo cresça em nós. 

É isso que a Igreja chama de Santos: pessoas que viveram de forma tão intensa e verdadeira o Evangelho, que se deixaram levar pela mão do Pai, que aperfeiçoaram de tal maneira seu ser que permitiram que Cristo crescesse nelas, sendo maior que elas próprias jamais seriam. Acreditamos que tais pessoas, não por mérito próprio, mas pela graça de Deus, já compartilham da alegria de ver o Pai face a face, já que sua santidade e perfeição às permitiram conquistar o céu. 

E como sabemos disso? Bom, uma maneira é pelos milagres e graças obtidos quando fiéis ao redor do mundo rezam pela intercessão do santo. Os milagres são um sinal da intimidade daquela criatura com o Pai.

E quanto à Santa Rita?

Santa Rita é o exemplo perfeito de tudo aquilo que a Igreja nos ensina sobre o que é ser santo. 

Ela foi filha, esposa, mãe e freira. 

E em cada momento da sua vida soube viver de maneira exemplar o Evangelho. 



Sua dedicação e seu amor a Cristo foram vividos no altar e na maternidade, no cuidado com os mais pobres e doentes, no dia a dia de uma região atormentada por guerras, na obediência do hábito e na paciência com um marido violento. 

Santa Rita nos ensina, assim como afirma a Lumen Gentium, que é possível sermos santos no nosso próprio estado de vida, com nossas própria preocupações diárias, com nossas contas a pagar, crianças para educar, maridos para amar.


Ela se tornou se tal maneira configurada a Jesus que chegou a receber na própria fronte uma das Suas chagas. Um dia, após ouvir uma pregação sobre a Paixão do Senhor, voltando ao convento, profundamente emocionada com o que ouvira, prostrou-se diante do crucifixo e suplicou ardentemente a Jesus que lhe concedesse participar de suas dores. Naquele momento, uma dor agonizante na testa a fez desmaiar. Ao acordar, o sinal da coroa de espinhos, que a iria acompanhar até a sua morte, já estava marcado no seu rosto. 




Minha mãe uma vez me disse que os devotos de Santa Rita sofrem muito. Acho que, pelo contrário, as pessoas que encontram muitas dificuldades na vida vêem nessa santa um ombro amigo a mais e uma ajuda intercessora junto ao Pai. E por causa dos tantos milagres e tantas graças que os "grande sofredores" alcançam pedindo junto a ela, tornou-se conhecida como a Santa das causa impossíveis. 

Conheci sua história através do filme que posto abaixo. Fiquei encantada e a partir de então a tomei como modelo. Desde aquela época, e porque para mim ela é um grande exemplo de mulher cristã, ao seu lado rezei por um companheiro, por um casamento santo, pelos filhos que agora espero. E como homenagem, uma das bebês que agora carrego (se o sexo se confirmar, rsrs) será chamada Rita. 




segunda-feira, 12 de maio de 2014

Como minha gravidez transformou a minha fé

Para mim, se houve algum dia em que eu duvidei de que queria ser mãe, esse dia passou muito rápido.
Desde muito novinha eu tinha certeza da minha vocação para a maternidade. 

Depois de casada, começou em minha cabeça (na nossa, na verdade) um pensamento constante sobre quando seria a época adequada para começarmos nossa família. 

Eu sempre estive convicta de que tudo acontece de acordo com os planos de Deus e não os nossos. Nossa missão é simplesmente estar abertos à vontade divina.
Mal imaginava o peso e a verdade disso...

No meio de uma temporada fora do Brasil para estudos do meu marido, a grande surpresa: estávamos grávidos.
Longe de ser a situação ideal, não me preocupei por saber que o Pai estava do nosso lado e que, independentemente de onde estivesse, meu marido e minha família sempre me dariam todo o suporte necessário.

Na primeira ecografia, a surpresa se renovou ao descobrirmos que não se tratava de um bebêzinho, mas dois! Isso mesmo! Gêmeos! Pedi por uma milagre e fomos abençoados com dois.

Com o passar das semanas e depois de outra ecografia, soubemos no diagnóstico: gêmeos monoamnióticos, também chamados gêmeos mono mono. 
Se trata de um tipo de gravidez gemelar bastante rara, que ocorre em cerca de 1 a 3% dos casos de gêmeos.
Significa que a divisão do embrião que gerou os dois embriõesinhos ocorreu tardiamente, depois da implantação no útero e, sendo assim, os dois bebêzinhos dividem o mesmo saco gestacional e a mesma placenta. 
Eles estão em contato íntimo um com o outro, como se crescessem no mesmo quarto da mesma casa. Em geral os gêmeos dividem somente a casa, e há ao menos uma membrana que os separa. 

No último final de semana, nos EUA, as gêmeas mono mono Jenna e Jillian nasceram de mãos dadas


Descobrir o tipo de gemelares que temos não significou apenas descobrir que fazemos parte de um grupo seleto de pais ao redor do mundo com esse tipo de gravidez, significou também conhecer os riscos que essa condição apresenta.

O consenso atual é de que, sem supervisão cuidadosa, existe 50% de chance morte dos bebês na barriga. O principal risco é o de enrolamento dos cordões dos dois bebês, causando falta de nutrição de um ou de ambos. Como não existe separação entre eles, o seu movimento no útero faz com que os cordões se entrelassem, correndo o risco de fazerem um verdadeiro nó que impede a circulação sanguínea. 

A grande maioria de gêmeos mono mono nascem às 32-34 semanas, sempre por meio de cesareana. E quase sempre necessitam de passar um tempo na uti neonatal, devido a prematuridade.

Conhecer tudo isso me assustou bastante! Como assim? Depois de tamanha felicidade, meu mundo caía com notícias tão arrasadoras?
Fiz então meu dever de casa. Pesquisei os casos de sucesso, os procedimentos usados, lí artigos e mais artigos. 

Mas como se consolar quando as evidências sugerem o contrário?
Foi aí que eu olhei pra tudo o que tinha passado na minha vida e tive a mais clara certeza de tudo havia sido orquestrado pelo Meu Pai que está no céu.
Toda vida provém Dele.
Antes de serem meus filhos, esses dois bebêzinhos aqui são filhos de Deus.

Compreendi que, mesmo que eu sempre falasse em fazer a vontade Dele, meu coração ainda estava preso em fazer a minha própria vontade.
Foi nesse momento, em eu não podia fazer nada além de esperar e torcer para que tudo ficasse bem, que eu percebi a grande oportunidade de exercer a minha fé com o fervor que eu sempre imaginei ter. Colocar tudo nas mãos de Deus e confiar, só isso. Ele sabe o que é o melhor para mim, para nós.

A minha maior dificuldade sempre foi essa, esse ego que me faz dizer "Seja feita a Vossa vontade" enquanto penso "contanto de esteja de acordo com a minha".
Tudo o que a gente vem passando com essa gravidez (que está correndo super bem, diga-se de passagem), me ensinou a pedir todos os dias: 

"Senhor, me ensine a amar a Vossa vontade. E, mesmo que eu não a compreenda, que eu tenha a coragem de realizá-la. Amém!"

E agora? Não há mais vestígios de medo no meu coração.



quarta-feira, 26 de março de 2014

O que levamos conosco

"Com a nossa morte, não podemos levar nenhum dos tesouros terrenos conosco. Deixamos para trás nossa riqueza, nosso poder, nosso status social, nossos diplomas e nossos títulos. Ainda assim, paradoxicalmente, o que nós damos aos pobres por amor a Cristo é o que nós carregamos conosco quando morremos."
(Fr. Robert Barron, reflexões para a Quaresma)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A intercessão dos santos

Na primeira vez que estive em Lisboa, fiquei surpresa em descobrir que o querido Santo Antônio de Pádua na verdade foi primeiro Santo Antônio de Lisboa! Conheci uma linda igrejinha construida sobre a casa onde esse grande evangelizador da Igreja nasceu e tive a oportunidade de rezar diante de uma de suas relíquias. 
Hoje, de volta a essa maravilhosa capital portuguesa, cidade natal de um dos maiores santos da história, aproveito para fazer conhecer a todos o que a Igreja Católica ensina sobre a intercessão dos santos, nessa aula do Padre Paulo Ricardo:

Se a Sagrada Escritura nos diz que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens por que nós, católicos, rezamos aos santos e uns pelos outros? Padre Paulo Ricardo nos dá a resposta para esta pergunta e ainda nos mostra que a intercessão é um costume na Igreja desde o tempo das Catacumbas.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Teologia sem Deus e o frei polêmico de BH

Chamou-me a atenção pois vivia bem perto dessa igreja em BH e cheguei a frequenta-la algumas vezes quando mudei para o bairro.

Neste fim de semana, o resultado:

O frei não só não foi afastado, como sua volta fez o número de fiéis dobrar!

Fiquei extremamente triste ao ler essa notícia. Por vários motivos. Mas o principal é a falta de informação e de comunhão desses fiéis com a Igreja.

Logo quando fui à paróquia Nossa Senhora do Carmo pela primeira vez, percebi que "uma coisa estranha" acontecia ali. A missa não era a mesma. A liturgia havia sido completamente alterada, mas ainda permaneci por ali por algum tempo. Até que, em um sermão de domingo, o Frei Cláudio afirmou que Cristo nunca condenou o divórcio e que apenas pedia que "o que Deus uniu, o homem faça o possível para não separar". Àquela época eu não sabia muito sobre o ensinamento da Igreja, apenas o básico como muitos católicos. Mas sabia sim que essa história de divórcio não estava certa. Resolvi mudar de paróquia para não endossar esse tipo de ensinamento.

Bom, os anos passaram. Vivo hoje na Espanha e estudo bastante o catecismo da Igreja, sua teologia, seus ensinamentos. E essas notícias sobre a minha antiga paróquia chocaram meu coração e me entristeceram bastante.

Quando a gente estuda o assunto, não é difícil ver a militância do frei Cláudio em relação à Teologia da Libertação e isso é algo muito grave.



O problema é que as pessoas têm uma ideia errada do que é essa ideologia e aderem muito facilmente a ela e aos seus pregadores.

Normalmente, quando alguém fala de Teologia da Libertação, o que as pessoas pensam é em Leonardo Boff ou frei Beto, pobres injustiçados pela hierarquia burguesa da Igreja. Eles se dizem perseguidos, excomungados injustamente. E muita gente de fato crê que suas excomunhões foram injustas. 

Mas não! A Teologia da Libertação é um mal muito grande, que tem corroído a Igreja por dentro, afastando as pessoas da verdadeira comunhão católica e, por consequencia, da verdade de Cristo.

Vamos entender:

Para compreendermos a teologia da libertação, precisamos entender as suas bases ideológicas: o marxismo e o marxismo cultural.

Para Marx, a Teologia e a Religião faziam parte de uma "superestrutura" opressiva. Eram, por assim dizer, "invenções", fenômenos irreais, e, por isso, patológicos. 
Quando Marx afirmava que "a religião é o ópio do povo", o dizia por um motivo básico: enquanto fonte de esperança escatológica, ou seja, de esperança no além-vida, a religião impede que os indivíduos lutem pela sociedade perfeita aqui na terra (meta última do Socialismo - o paraiso na terra).

Com base nessa certeza, o Stalinismo e o Leninismo abordaram o problema pela via política e legal, tentando abolir a religião à força, proibindo manifestações de fé e o culto a qualquer divindade.

Com a queda do muro de Berlim e o fim do Comunismo como sistema econômico, a luta se concentrou no plano ideológico, apoiando-se nas produções filosóficas da Escola de Frankfurt e Gramsci.
A conquista da sociedade perfeita, o paraiso na terra, não seria conseguida pela via da força como Stalin e Lenin pensavam. A sociedade perfeita seria atingida pela via da revolução cultural, da remodelação da sociedade. A derrota das suas estruturas burguesas que a sustentavam até então seria feita pouco a pouco, pela substituição de seus valores. Assim, entendeu-se que o fim da religião (o ópio do povo - um dos pilares burgueses opressores) não seria conseguido pela proibição, mas pela sua remodelação. 
E é aí que nasce a "Teologia" da Libertação.

Podemos dizer, então, que a "Teologia" da Libertação é o "plano B" do Marxismo. É o "Se você não pode vencê-los, junte-se a eles". É a transformação da natureza da Igreja, transformando-a em algo mais compatível com a revolução. 

Mas porque o cristianismo? Porque não existe uma Teologia da Libertação Hindu, ou Budista, ou Xaoísta? Será que eu estou sendo paranóica? Afinal, a TL parece algo honesto, pregando a igualdade, a inclusão, a caridade com o pobre, etc.
Mas acontece que o buraco é bem mais em baixo. 

O cristianismo, de maneira geral, é particular na sua teologia e seu esforço de conciliar aparentes paradoxos através de nossa limitada razão humana.
De acordo com a filosofia cristã (bem como a filosofia clássica de Aristóteles e Platão), o sentido da história, da nossa vida, deve estar na meta-história. Os grande filósofos gregos já entendiam que o sentido de cada coisa está fora dessa coisa. Assim, por exemplo, o sentido de uma caneta não está nela própria e, sim, no uso que fazemos dela: escrever. Portanto, o sentido da história não pode estar na história mesma, deve estar na transcedência: no além-vida.

No lado oposto da filosofia cristã está o existencialismo, por exemplo, que, ao negar completamente o transcedente, chega a conclusão de que a vida não possui sentido algum e só o que há é desespero, náusea e caos.

O Marxismo e a "teologia" da libertação se encontram no meio termo desses dois opostos. O que essa ideologia faz é "empurrar", "adiar" o sentido do hoje. Assim, para eles, o sentido do hoje está no amanhã. O sentido da nossa vida é a sociedade perfeita, o paraíso na terra. 
A TL nega a transcendência, imanentizando o cristianismo. Transfere nossa esperança do reino dos céus para o paraiso da terra, chamado por eles de "reino de Deus". Traz para a história (lembremos: o futuro ainda é parte da história) o que nós esperamos para além da história. 
Assim, podemos dizer que a TL é a aplicação religiosa do Marxismo. É a religião a serviço do partido, que arrebanha os cristãos para sua causa, a luta de classes, a luta pela sociedade perfeita. Pois, como Marx pensava, enquanto os indivíduos continuarem colocando suas esperanças no além-vida, eles deixarãm de lutar pela sociedade perfeita, sem classes, aqui na terra, deixarãm de cumprir seus papéis na revolução.

Mas porque a "Teologia" da Libertação está errada? 
Esse pensamente não somente é desonesto do ponto de vista filosófico, mas contraria o cerne do cristianismo e o ensinamento da Igreja. 
Somente a meta-história soluciona o problema da busca de sentido para a vida. Pois, ainda que "empurremos" para o amanhã o sentido do hoje, que sentido terá o amanhã? Que sentido terá a sociedade perfeita? O sentido da história deve estar no transcedente!
O cristianismo é aqui um alvo importante do pensamento marxista pois, para nós, o transcendente, o logos, irrompeu a história a mais de 2000 anos atrás, se fez carne e habitou entre nós. Pela Encarnação, o que para os filósofos clássicos era inatingível, tornou-se tangível para a humanidade.

Assim, fez-se necessária uma "teologia" que permitisse uma releitura das verdades transcendentes em chave imanente, ou seja, uma "teologia" (mais bem ideologia), que desmentisse o que é dito pela fé cristã se tratar se transcendência, esvaziar de conteúdo transcendente a nossa fé, permitindo aos "fiéis" esperar pelo paraíso aqui na terra e não por esse "paraíso fictício inventado aos longo da história e pregado desonestamente por essa Igreja alienante". E é exatamente isso o que a "Teologia" da Libertação faz: é uma ideologia a serviço de uma engenharia social.

Como cristãos, porque devemos fugir da TL?
Porque, ao esvaziar nossa fé de toda sua transcendencia, nega aspectos básicos como a divindade de Cristo e a nossa Redenção pela sua morte de Cruz.
Como católicos, porque devemos fugir da TL?
Igualmente, para tornar nossa fé compatível com a imanentização marxista, nega pontos chaves de nossa fé: a presença real de Cristo na Eucaristia e seus milagres.

Por fim, peço que oremos juntos para que a Igreja posse se ver livre da "Teologia" da Libertação e para que os Padres que rezam por essa cartilha marxista compreendam o erro de suas convicções filosóficas. Rezemos para que a luz do Espírito Santo brilhe sobre eles e possam ver a verdade contida no Tradição e nas Escrituras.

Padres, como o frei Cláudio, não merecem nosso Ibope, e sim nossa oração piedosa.

Conto com vocês!!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Establishment é outro e ninguém percebeu

Lia-se hoje no facebook de alguém:

"Para a Rachel Sheherazade, a agressão, pelos ~justiceiros~ do Flamengo, de um adolescente acusado (por quem?) de roubo (de quê?), é "justificada". Afinal, o "marginalzinho" teria a "ficha mais suja do que pau de galinheiro". Já quando o assunto é Justin Bieber, a reação da apresentadora é um pouquinho diferente: o "menino prodígio", que agrediu repórteres e pichou muros durante sua visita ao Brasil, está em "fase de crescimento", é a "síndrome da adolescência". "Atire a primeira pedra quem nunca se perdeu de si mesmo", diz Rachel. E finaliza, com um sorrisinho maternal cheio de compreensão: "peguem leve com o Justin, o menino está só crescendo". Ganha uma bala quem conseguir me explicar essa mudança. A tal história de que "isso não tem nada a ver com racismo e classe social" ainda se sustenta?"

http://www.youtube.com/watch?v=dI2enm6JB9g

Eu explico e exijo minha bala.

As pessoas são tão focadas em ver em tudo sinal de bipolaridade que se esquecem de olhar as coisas pelo que elas realmente são.
Comparar Justin Bieber com um adolescente como esse menino, vai além de olhar para as cores de suas peles e suas classes sociais e tal comparação é incorreta (não preciso nem falar que também injustiça).
Eles são fruto de dois problemas completamente distintos e Rachel Sherazade, como uma mulher brasileira inteligente, compreende isso mais que qualquer petista de plantão.
Justin Bieber, longe de ser exemplo de conduta pelas suas recentes aventuras, sofre de um mal que atinge milhões de adolescentes mundo afora: falta de limites, excesso de liberdades. Desde cedo foi privado (por escolha própria ou não) da convivência da familia, de uma educacação normal. Seu problema? Pura e simples falta de educação, exarcebada por uma adolescencia conturbada e um excesso de atenção da mídia.

A criminalidade crescente no Brasil já é outra história....
Não existe comparação entre os dois garotos apresentados e colocar os comentários lado-a-lado é injusto e uma tentativa baixa de desmoralizar Rachel Sherazade (como a esquerda no Brasil sempre faz com os dissidentes).

Falar que um menor acaba indo pro o mundo do crime por razões de racismo ou elitismo é ser simplório e, honestamente, idiota demais para o meu gosto.
Num país onde a educação pública não existe, onde o paternalismo já virou doença, onde a moral não existe em lugar nenhum, a crítica feita pela repórter faz todo sentido. Sua posição, crítica voraz de um governo que deixa o seu país mergulhar cada dia mais na própria lama de insegurança, deve ser vista pelo o que ela realmente é: um apelo para uma mudança urgente nesse estado de quase-guerra em que vive o povo brasileiro.

E termino: posso ver mais amor no seu comentário ao jovem brasileiro, seu conterrâneo, que na sua opinião em relação ao cantor americano. Quanto ao este, percebemos que a apresentadora se importa tão significantemente menos por ele que volta seu apelo mais à mídia que o critica que ao próprio adolescente.
Rachel Sherazade é brasileira, e reclama por um pais onde meninos (de qualquer cor) não sejam mais "vítimas" de justiceiros, já que estarão nas escolas, nos parques, nos campos de futebol. Reclama por um país que não precisará mais de justiceiros, pois a polícia será eficiente e respeitada. Reclama por um país onde toda crime será punido e nós tenhamos orgulho de um governo que não assiste à sua juventude se perdendo no crime de braços cruzados.

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Mariologia na Redemptoris Mater de João Paulo II - parte 5

Nas páginas finais do seu livro, Cándido Pozo expõe um importante tema em relação à devoção mariana, também presente na Redemptoris Mater, e que possui notáveis implicações ecumênicas: a mediação de Maria, que em sua essência está inserida na Mediação única do Cristo e nos leva a Ele.16

(Disponibilizo aqui o capítulo na íntegra: Mariologia na Redemptoris Mater; conclusão do livro "Maria, nueva Eva" de Cándido Pozo)

c) Mediação materna de Maria



Maria, assunta em corpo e alma aos céus, está espiritualmente presente na Igreja graças a sua permanente intercessão diante de seu filho ressuscitado, isto é, por sua mediação intercessora. Na Igreja, Maria é invocada com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro e também Mediadora. O conhecido texto de São Paulo que afirma que há “somente um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, também homem” (1 Tim 2,5), não é obscurecido ao manter uma mediação de Maria11, “que é apoiada na mediação de Jesus, depende totalmente dela e é de onde provém todo seu poder.” A mediação de Maria é uma mediação participada da de Cristo e que, por isso, nada tira nem soma “à dignidade e eficácia de Cristo, único mediador”. Neste contexto, o Papa recorda a fórmula de São Bernardo “Mediadora ao Mediador”, porque põe em relevo a subordinação da mediação de Maria à de Cristo.
Esta subordinação implica também uma união às intenções de Cristo. A mediação de Maria, “dotada certamente de uma índole ‘subordinada’, participa da universalidade da mediação do Redentor, único Mediador’.
É bem sabido que depois da definição da Imaculada difundiu-se fortemente na Igreja a certeza de que a verdade mariana que em um futuro próximo se definiria na Igreja como dogma seria a Mediação universal. Desta certeza surgiu todo um movimento a favor desta definição, a frente do qual se situava o cardeal D. Mercier. Neste tempo e neste ambiente surgem obras tão apreciáveis e clássicas como a famosa monografia de J. Bittremieux (De mediatione universali Beatae Mariae Virginis quoad gratias). De fato, em um determinado momento este impulso perde força e se vê desbancado por outro que se adianta e leva à definição dogmática de outra verdade mariana: a Assunção corporal de Maria (1 de novembro de 1950).
Talvez seja mais interessante ressaltar o que provavelmente impediu o primeiro destes dois movimentos de chegar à sua meta: a dificuldade em determinar claramente o que se pretendia dizer ao afirmar que Maria é mediadora universal de todas as Graças; ou, com outras palavras, a dificuldade em demonstrar a especificidade de Maria em sua intercessão, comparada com a dos santos.
De fato, tem-se a impressão de que, ainda que quando se diz que Maria é mediadora universal de todas as graças parece se afirmar muito d’Ela, na realidade, com esta expressão não se distingue suficientemente sua mediação da dos santos. Não se esqueça que o grande tema do Apocalipse é o da liturgia celeste. No centro dessa liturgia está o “Cordeiro, como que imolado” (Ap 5,6)12. Trata-se de Cristo que, tendo subido ao céu, apresenta ao Pai o seu sangue (cf. Heb 9,12.24-26), isto é, que, ao longo da história, oferecendo ao Pai sua entrega e seu sacrifício pretéritos, “está sempre vivo para interceder” por nós (Heb 7,25). Então, nesta liturgia celeste participam todos os bem-aventurados e nela se unem a todas as intenções pelas quais Cristo morreu e pelas quais agora, ressuscitado e sentado à direita do Pai, intercede (cf. Rom 8,34). Neste sentido, na colação de todas as graças que Deus concede intervêm todos os bem-aventurados, isto é, todos intercedem por todas as graças que são concedidas. Se levarmos em conta essa realidade, a singularidade da mediação de Maria não fica suficientemente evidenciada quando se diz que ela é “universal”. Tal adjetivo não parece ser bastante específico, já que todos os bem-aventurados intervêm na colação de todas as graças e, a partir deste ponto de vista, também a mediação dos santos pode ser qualificada como “universal”.
João Paulo II indica uma pista teológica que pode ser sumamente fecunda para mantermos com nitidez a singularidade da mediação de Maria, comparada com a dos santos:

 “Efetivamente, a mediação de Maria está intimamente unida a sua maternidade e possui um caráter especificamente materno que a distingue daquela das demais criaturas que, de modo diverso e sempre subordinado, participam da mediação única de Cristo”.

Maria é Mãe de Cristo e mãe dos discípulos. Tem uma relação materna tanto com respeito a Cristo como com respeito aos discípulos. Por isso, em sua intercessão, Maria “se coloca ‘em meio’, ou seja, faz-se mediadora não como uma pessoa estranha, mas em seu papel de mãe, consciente de que como tal pode – melhor, ‘tem direito de’ – fazer presentes ao Filho as necessidades dos homens”. Deste modo, dentro das mediações subordinadas à de Cristo, o único Mediador, demonstra-se uma característica específica da mediação intercessora de Maria, que se dá n’Ela e somente n’Ela, isto é, uma característica que não se dá na mediação de nenhum dos santos: é uma mediação materna não somente porque Maria é Mãe de Cristo diante do qual intercede (“Mediadora ao Mediador”), mas também porque é Mãe daqueles por cujos problemas intercede (“Mãe dos viventes”).

d) Maria nos leva a Cristo

O recurso à mediação de Maria não nos distancia de Cristo, mas nos leva a Ele. Ela nos conduz ao próprio Cristo como “Mediadora ao Mediador”. Este fato deve traduzir-se em nossa atitude de oração: o recurso à intercessão de Maria deve terminar em um contato espiritual com o Mediador e por Ele chegar ao Pai.
A articulação que de Maria conduz a Jesus é própria de toda devoção mariana. Uma vez mais, João Paulo II insiste em que “pode-se afirmar que Maria segue repetindo a todos as mesmas palavras que disse em Caná na Galiléia: ‘Fazei o que Ele vos disser’”19. Em toda forma autêntica e correta de devoção mariana, Maria nos remete a Jesus como sua razão de ser e como fim ao qual Ela, com sua solicitude materna, quer nos levar. “Mostrai-nos Jesus”, pedimos na mais popular oração a Maria depois da “Ave-Maria”, na “Salve Rainha”.

O próprio fato de se consagrar a Maria não pode se esquecer deste sentido de “Mediadora ao Mediador” que tem a figura da Virgem possui. Assim diz expressamente o Papa a propósito da consagração de escravidão mariana segundo a doutrina de São Luis Maria Grignon de Montfort. João Paulo II, especialista nessa espiritualidade por sua vivência pessoal, afirma que, na escravidão mariana, São Luis Maria Grignon de Montfort “propunha aos cristãos a consagração a Cristo pelas mãos de Maria, como meio eficaz para vivermos fielmente o compromisso do batismo”. Estas palavras são de suma importância. Lembram-nos que a consagração primária é a batismal; que toda consagração batismal é um compromisso de assumir umas determinadas atitudes espirituais para viver as exigências do batismo até as últimas conseqüências; e que as consagrações a Maria tomam-na como caminho até Cristo e, neste sentido, têm Cristo como fim. 


[16] Cf. POZO, C., “María, nueva Eva.”, BAC, Madrid 2005, p. 423-427.
[17] 1 Tim 2,5 afirma que há um mediador único, isto é, o mesmo e inevitável para todos, mas não trata de se esta mediação é ou não compatível com a existência de mediadores subordinados.
[18] “Eu vi no meio do trono, dos quatro Animais e no meio dos Anciãos um Cordeiro de pé, como que imolado. Tinha ele sete chifres e sete olhos {que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra}.” (Ap 5:6)
[19] O texto citado é de Jo 2,5. Este pensamento foi expresso outras vezes por João Paulo II; basta ser citado aqui sua Alocución en el acto mariano nacional celebrado en la plaza Eduardo Ibarra, de Zaragoza 4: AAS 75 (1983) 309-310.